9 de nov. de 2007

Os 5 do passado, entre 100 que guardo

5. Porque o vento me toca como se eu fosse um muro de pedra

Há alturas em que um ponto de vista muda a forma de ver,

Há alturas em que o silencio tem sabor a eco,

Há alturas em que um homem ri sem entender,

Mas tudo se mostra de um pouco longe o perto,

O sabor transforma-se e a musica é o bater,

O tic… o tac… o amar-te,

O tentar viver para perceber,

Mas tudo se mostra de um pouco longe o perto,

E a mente de um poeta se ilumina,

E as mãos de seda se transformam em concreto,

E as alianças são feitas pela tinta,

Mas tudo se mostra de um pouco longe o perto,

Para o som eu te escrever,

Para o som eu te bater,

Para o meu beijo eu te dar a conhecer.





4. E o céu deitou-se

O céu hoje deitou-se sobre as minhas memórias, criou um manto estrelado de histórias e fantasias maravilhosas, a cada palavra transpirava ar quente, cativante, envolvente… sentei-me ouvindo, deixando que o desejo me fosse iludindo, que o doce néctar das aventuras se fosse cumprindo… serei eu um apreciador de minha arte? Será que algum dia na minha vida farei parte?... De algum bocado de orgulho fiz-me perder, iludido disse que era para me defender… mas de que me defendi eu?... De amar? Será assim tão mau amar? O que foi que o meu fado me deu? Que não consigo deixar que o corpo se consolide com um outro toque, penso ser um pedaço acabado de uma anedota, um ser de linhagem torta. Sinto-me ouvir o feedback das palavras proclamadas… é o eco da solidão, ou talvez falta de coração… só espero que por entre os meus passeios na selva de betão, encontre um pequeno brilho no meio de um mar de sombras sombrias… que tenho um pouco de mim para dar e ninguém para partilhar.





3. O toque do luar

Acordo a meio da noite inquietado por um suspiro, algo que me sufoca… me deixa perplexo e disperso… sinto tua mão aproximar de mim… sinto tua mão tocar em mim, deslizando pelo meu suor… fluido de um corpo que se perdeu no pequeno mar do imenso instante… com gestos de quem pinta letras, desenhando em mim calafrios de aprazimento… algo que me conquista e dispersa, que me tira o ar… me consome no ar… teu que se envolve no meu, assumindo uma sinergia por entre os lençóis do luar… e a paredes deste batel… o tempo cessa e eu olho dentro de ti… penetro-te o olhar… o sentir... roubo-te um desejo e dois e três… roubo-te o corpo em quentes desejos… sinto teu corpo queimar o meu… deixando entre nos fluir a foz do leito em pecado… do fruto amado pelo sentimental poeta… que consome teu corpo como a meta… barreira do ultimo suspiro, roubado, transformado em luar de estrelas… pintadas em ti com meus crespos gestos… roubei então eu mais um pouco de ti provando ser eu que possuía aquilo que e teu… para te deixar gritar meu nome no inferno do gozo… rebentaste em mim uma vocação… rebentaste em tremido gesto teu corpo coberto de mim.





2. Efémero

O olhar pode nos ser tão enigmático, pode ser bom ou problemático… mas a verdade é que sinto necessidade de mostrar um pouco do meu… para que este também seja teu.

Hoje o dia começou as 21h30… sei que não vi a luz do dia, mas isso será só um equivoco, por tanto não lhe dou valor.

Lavei a cara, e deixei que as minhas mãos secassem lentamente pelo meu pescoço… para arrefecer do sonho.

Vesti a roupa mais fora de contexto, segui viagem pela rua que mais gasto com passos leves, rudes e ás vezes intactos… estava cheia a rua, e perdia-se de cantares, de gentes mirabolantes, que me carregavam com olhares, e sussurravam entre si sobre o meu aspecto… devo ser diferente.

Procurei uma porta que dizia “velha-a-branca”, do lado de fora já sentia o doce aroma a intelectualidade e sossego, era mesmo disto que precisava, um pouco de paz, um pouco de harmonia nos sentidos que transpiravam um doce ar greco.

Subi as escadas e socializei com velhos olhares conhecidos, o ambiente era jazz, sorri então, peguei no meu café aromático, e subi mais um pouco… precisava de uma mesa que não pode-se ser perturbada por luz artificial, não queria esconder o manto estrelado que me cobria.

Já sentado, fui escutando o que se abraçava no redor, fui visionando o ar transpirado por mortais eloquentes…

O meu olhar fica captado num copo, que se via rodeado de palavras, que nele guardava a mensagem, “…cerveja viva…”, pensei cá para mim… como pode um copo de 20 cl estar vivo?... Deixei que uma boca rouba-se 5 cl de fermento, e pensei… se um objecto tão pequeno e dito frágil contem vida, porque não pode então um corpo de 80 kg viver também?... Já se roubavam mais 5 cl e eu percebi… que o meu corpo e bem mais frágil que o copo, porque dele todos querem o seu conteúdo, porque a ele lhe entregam os lábios sem receio… e a mim, sou um mero voyer…

Tirei então um isqueiro do bolso, um isqueiro que guardo comigo… porque me é especial… porque nele está escrito “os bons velhos tempos voltaram”… sempre que o acendo, penso para mim… será que voltaram? E se eles nunca existiram? Como podem voltar?...

Fico sentado pensando sobre o céu, pensando no que a vida me pode reservar, nos imprevistos… só mais um punhado de minutos, até que o corpo se ressente de tanta solidão… ai levanto-me e faço feedback aos passos dados…





1. Quero-te

Acorda e beija-me… faz o meu chão tremer e as veias derreter… quero ouvir o teu coração bater… quero sentir as minhas mãos percorrer a tua face… sentir os teus lábios de seda molhar o meu ar… voar sobre a tua pele e deixar nela marcas da minha presença em ti… quero dizer o quanto em mim viajas ao teu ouvido, quero que o meu corpo seja teu… nosso… quero ser eu… em ti

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